Autor: Luiz Carlos Figueiredo
Antes que meu amigo Johon Kennedy me acuse de estar escrevendo histórias dignas de serem exibidas no “Exvídhu” (nunca gostei muito destas línguas estrangeiras) devo dizer a meu favor, que por mais que tenha empapuçado estas maus traçadas linhas de pó de arroz, visei apenas amenizar o teor erótico nela contido. Saliento que o máximo que consegui foi fazê-la ficar em condições de ser publicada aqui neste espaço sem deixar os conservadores leitores ruborizados.
Antes que apareça algum “especialista” corrigindo a grafia do nome do nobre “novo-conquistense” que hoje curte a sua quase aposentadoria lá pelas bandas de “Son Palo e Triângulo Mineiro” devo dizer que este Johon nada tem a ver com o John Fitzgerald Kennedy (1917-1963) o presidente assassinado dos Estados Unidos em 22 de novembro de 1963 quando visitava com sua esposa, Jacqueline Kennedy, a cidade de Dallas, no Texas. Este aqui é um genuíno baiano de Nova Conquista, e como não gostamos de copiar ninguém, o nome do moço é Johon e não John. Esclarecido estes pormenores, seguimos em frente com a nossa narrativa.
Atendendo ao pedido da meia dúzia de leitores que – em falta do que fazer – leem semanalmente estes relatos com cheiro “naftalinado” de nostalgia, hoje daremos sequência à história do casal Laurindo Troca-Olho e Dona Maricota dos Santos que entre tapas e beijos fecharam brilhantemente as crônicas de 2022, ano da era cristã.
Como todo mundo está careca de saber, este casal brigava mais que galo de raça em rinha profissional, e não era briguinha atoa não, era um metendo os cacetes pra cima do outro que no frigir dos ovos sobrava corte, sangue e pontos para tudo que era lado. Cansada, Dona Maricota, aconselhada por algumas vizinhas requereu a presença de sua linda e jovem sobrinha (que residia lá pelas bandas dos Gerais) de apenas quinze aninhos de idade para vir morar com o casal. Quem sabe com a presença da garota, Lauzim não mudasse o seu comportamento agressivo e embriagado, fazendo que a paz voltasse a reinar naquela ambiente, como nos primeiros meses do casamento? Enquanto existisse vida, precisava ter esperanças!
Florinha era novinha, magrinha, lindinha. de cabelos escorridos e pele clara, já com os peitinhos empinados, a cinturinha delineada e a bundinha estufada para trás denunciando que a jovem estava deixando a adolescência e se transformando em mocinha. Se isto não bastasse, a donzela ainda usava uma “minissainha” deste “tamanhinho” – que deixava à mostra um par de coxas grossas e roliças deste tamanho – como a vida sexual do casal andava uma bosta, toda vez que Lauzim dava de cara com a garota que andava seminua dentro de casa, endoidava de vez.
Apesar de fazer tudo para chamar a atenção, a jovem ignorava solenemente a sua presença. Sem muitas alternativas, o jeito que Troca-Olho achava para amenizar o seu desejo era se trancar no banheiro e cavalgar nas ondas da imaginação. Nos fins de semana, ele voltava para casa em plena madrugada, completamente “mamado”. Só uma coisa ainda o satisfazia plenamente: o seu trabalho. O míope era muito bem pago para desenvolver a sua função no banco, com isto tinha a regalia de comprar fiado em todos os botecos da cidade. Quando recebia seu pagamento saía de bar em bar quitando as suas contas, mal sobrava o da feira, isto fazia com que dona Maricota (contrariada e furiosa) endurecesse ainda mais o jogo, ou seja: sexo nada!
Certa noite ao retornar para a sua casa bêbado feito um gambá, logo após ter perdido uma caixa de cerveja no palitinho, Lauzim “retado” com a vida, com os falsos colegas de trabalho e principalmente com a sua senhora (que, sequer, cumpria o seu papel de esposa), ficou quase dez minutos cambaleando diante da porta de sua casa tentando acertar com a chave o buraco da fechadura, assim que conseguiu entrar ficou boquiaberto com uma visão que ele só via nas revistas adultas do seu amigo Crispim. Que miragem maravilhosa era aquela?
Deitada no sofá em um profundo sono, com as pernas arreganhadas, vestida com a sua indefectível minissainha mostrando o fundo da calcinha amarela, lá estava a linda e inigualável Florinha, sobrinha lindinha da sua esposa. Ah, quando Lauzim viu aquilo tudo (já havia se desacostumado destas coisas), perdeu completamente a noção do tempo, olhando embevecido por horas a fio através das suas grossas lentes encharcadas de suor! Sentou-se no sofá e ficou só limpando a baba que lhe escorria queixo abaixo. Depois de todo este tempo se deliciando com a visão arrebatadora, o míope, sorrateiramente, se dirigiu até a sua cama, onde deitou silenciosamente ao lado da sua senhora. Virou o restante da noite sem pregar o olho! No dia seguinte, um saltitante Lauzim desceu da cama e surpreendeu a todos fazendo para sua formosa dama um café da manhã reforçado com ovos estalados– devidamente estendido para a sua graciosa sobrinha.
Nunca uma semana demorou tanto para passar. Lauzim contava os dias nos dedos, doido para chegar logo à sexta-feira. O tratamento fino e a educação requintada do jovem míope durante toda a semana chegaram até a despertar a desconfiança de Dona Maricota que não entendia o que tinha acontecido com o marido. Eis que chega a tão decantada sexta-feira e, após o expediente, lá foi o cidadão jogar com os amigos! Uma alegria incontida e um sorriso constante nos lábios deixaram os “amigos” desconfiados. Será que o míope havia descoberto o conluio que eles tinham para fazer que ele perdesse as cervejas? Não. Não era isso, a alegria provinha de dentro, algo – ou alguma coisa – estava mudando o seu comportamento. Pelo jeito – pensaram os amigos – era coisa grande.
Logo após as dez badaladas noturnas, Lauzim limpou os óculos, ajeitou o corpo e, em longas passadas, rumou em direção à sua residência. O clique da fechadura informou que ele abrira a porta na primeira tentativa e…, controlando a ansiedade, constatou que o seu “objeto de desejo” encontrava-se exatamente no mesmo lugar da semana anterior. Andando na ponta dos pés, checou se a sua “doce” esposa estava realmente dormindo e, após a constatação, sentou-se no sofá e ficou babando diante da visão. Depois de alguns minutos, completamente excitado, Troca-Olho tocado por um impulso incontrolável, passou levemente a mão na coxa da garota, que em retribuição arreganhou ainda mais as pernas, mostrando a calcinha por completo. Suado e ofegante, o bancário correu até o seu banheiro e se aliviou como de costume, utilizando a famosa “tática guerrilheira”. E, assim, todo final de semana a história se repetia, com Lauzim sempre avançando um pouquinho mais. Quando, durante a semana, por um motivo ou outro ele brincava com a garota e ela retribuía com um leve sorriso, ele perdia completamente o sono. Já estava até achando que ela sabia de tudo e estava até gostando da brincadeira. Pensando assim, incutiu na cabeça que na próxima vez avançaria o sinal um pouquinho mais só para ver que bicho dava. E assim o fez.
Ao chegar em casa, lá estava Florinha, toda arreganhada, dormindo, só esperando sua chegada. Desta vez, bem lentamente, ele afastou a calcinha só um pouquinho e se deliciou com a visão daquela pequena e rala mata, virgem e intocada, úmida e quente, linda e perfumada. Como não enxergava muito bem, sentou-se no chão, perto da garota e após retirar silenciosamente os óculos fundode-garrafa, encostou o nariz bem pertinho da “preciosidade” e deu a maior cheirada da sua vida!
Apesar dos seus quase trinta anos, nunca em sua vida Troca-Olho tinha sentido um cheiro tão bom, tão gostoso, tão desconcertante, tão embriagador… Como se tivesse gostando, a garota se virou lentamente, soltou um excitante gemido e abriu ainda mais as pernas, deixando a entrada da “virgem caverna” completamente livre. Ofegante, Lauzim encostou-se lentamente e lambeu bem levemente aquele “umedecido orvalho”! Se o cheiro era bom, imagine aí o gosto? Ficou sem escovar os dentes e jejuando o dia seguinte inteiro apenas para ficar com aquele gostinho na boca! Apesar de a semana demorar a passar, aquele “momento único” acontecido na sua vida, alimentava mentalmente o míope bancário, dando-lhe condições para driblar as adversidades do dia a dia. Já estava até tratando bem dona Maricota, que, inclusive, já não mais desconsiderava fazer as pazes com o seu amado marido.
Eis que a tão sonhada sexta-feira chega e, após os ponteiros do relógio marcarem vinte e duas horas, lá estava Lauzim como de costume, excitadíssimo com a visão! Desta vez, sabe-se por que, a jovem Florinha por um “intencional descuido”, esquecera completamente de botar a calcinha e, assim que arreganhou
(como de costume) as pernas dando o seu sensual gemido soturno, o míope, completamente descontrolado, deu uma bistunta e pulou violentamente em cima da moça tentando consubstanciar a sua intenção!
- Deixa de Lambança, tio? – gritou a jovem, acordando pra lá de assustada! – Cala a boca, merda! – gritou Lauzim tentando tampar a boca da garota!
- Que diabo é isto aí? – perguntou uma furiosa dona Maricota, já entrando na sala e deparando com a “macabra” cena. Um excitado Troca-Olho com os “badalos” de fora, Florinha com a genitália descoberta, e um enroscado completamente ao outro sobre o sofá. Ah, pra que?
- Ele tentou me estuprar! – Gritou malandramente a garota!
- Eu?… – Ainda tentou consertar Troca-Olho, já recebendo uma violenta vassourada na testa. Segurando as calças, tentou correr e ambas as mulheres passaram a jogar coisas no coitado. Guarda-chuva, bibelôs, perna de sofá, pratos, xícaras, panela, penico, os cambaus… Era o coitado pulando e as mulheres jogando o que encontravam pela frente!
- Saia daqui, tarado, bêbado safado! Sem-vergonha! Raparigueiro! – Se tinha uma coisa que dona Zeferina tinha de sobra (e isto não se podia negar), era um extenso dicionário de xingamentos. Nunca se viu uma mulher xingar tanto na vida sem, sequer, repetir uma palavra!
– Vagabundo, molambento, pai d’égua, descarado, frouxo… Xibungo, malandro, “baitôla”, fedorento! – E assim, à medida que ia xingando, ia jogando os objetos que encontravam pela frente e sempre contando com a ajuda da fiel sobrinha. Lauzim desembestou porta fora ainda segurando as próprias calças.
Olha, até hoje Troca-Olho fica emocionado ao contar esta história. Só se arrepende de uma coisa… do rádio à pilha novinho – comprado em dez suaves prestações na Paes-Moveis –, que ela quebrou impiedosamente em sua cabeça, abrindo um buraco que levou doze pontos. Disto ele se arrepende. Não pelo rádio em si, ou pelo buraco que ficou semanas decorando seu cocuruto, mas, porque ficou duas semanas encarrilhadas sem ouvir os jogos do seu querido Flamengo, transmitido pela Rádio Globo do Rio de Janeiro nas vozes de Waldir Amaral e Jorge Cury.
FIM
Luiz Carlos Figueiredo
Escritor e Poeta
CSales, Bahia. Quadra de Janeiro de 2023. Crescente de Verão.