QUIXOTES DO ANALFABETISMO
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QUIXOTES DO ANALFABETISMO

Crônicas da Madrugada

Autor: Danilo Sili Borges

Mancha irremovível das nossas estatísticas, consequência e causa de tantos dos males que afetam as condições de vida dos mais desvalidos dos nossos irmãos, é o analfabetismo, que hoje infelicita mais de 11 milhões de brasileiros com 15 ou mais anos de idade, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo IBGE, em 2019.
Alguém que não saiba ler e que não seja capaz de se expressar minimamente pela escrita, neste século XXI, está condenado a viver num mundo escuro e viscoso que lhe impede as mais simples ações cotidianas, como saber, num ponto de ônibus, escolher o que lhe pode levar ao destino desejado ou preencher uma ficha de cadastramento na procura de emprego. O analfabeto acaba por impor a si mesmo um sentimento de humilhação que o expõe a sentimentos de pouco valor próprio. A questão individual, no coletivo, é o grave problema social quantificado pelo IBGE, gerador de tantos outros, igualmente impeditivos de estatísticas menos acachapantes.
Ciente dessa angustiante prisão sem grades, a Universidade Católica de Brasília, desde 1993, mantém um programa que já alfabetizou mais de 15 mil adultos no Distrito Federal. O programa é desenvolvido em parceria com o Rotary, que atento às crises e desequilíbrios humanitários que afetam as partes menos privilegiadas do planeta, tem previsto, para sua direta atenção, Áreas de Enfoque, da qual consta “Educação Básica e Alfabetização”. No DF, tomaram a seus encargos lidar com a alfabetização sete (7) Rotary Clubs, suas Casas da Amizade e a Fundação de Rotarianos de Brasília.
No dia 9 de dezembro, mais uma turma do curso de alfabetização se formou. Como em todas as outras vezes foi organizada cerimônia no auditório da UCB, emocionante solenidade com a presença da Reitora, de outras autoridades da Universidade e do Distrito 4B8r3B4p7yhRXuBWLqsQ546WR43cqQwrbXMDFnBi6vSJBeif8tPW85a7r7DM961Jvk4hdryZoByEp8GC8HzsqJpRN4FxGM99 meses, 3 vezes por semana, nas cidades: Estrutural, Ceilândia, Samambaia, Santa Maria, Sol Nascente e Assentamento 26 de setembro.
Filhos, netos, outros parentes e amigos dos concluintes estiveram presentes à significativa solenidade, conquista de alforria cultural. Cada formando recebeu seu certificado das mãos de sua alfabetizadora. Desta vez, foram redimidas 143 pessoas dessa condição de indignidade social a que foram injustamente condenadas.
Sei bem que o esforço dispendido para que se realize periodicamente a ação descrita é grande, mas que o resultado é pontual, tendo em vista a magnitude do problema, e que do ponto de vista macro pouco representa, mas para cada um dos que hoje podem ler a carta que chega do filho distante, ou participar, com os netos, da troca de mensagens no WhatsApp é fonte de prazer e orgulho. É estar vivendo no seu tempo!
As ações globais couberam, e cabem, aos governos tomar, os quais tiveram 522 anos para isso, desde que fomos descobertos, ou 200, desde que nos tornamos independentes, para evitar que essa situação se instalasse e que não o fizeram.
Mas para que ir tão longe? O Plano Nacional de Educação previu que seriam tomadas providências para a erradicação do analfabetismo no Brasil até 2024, o que, hoje, não parece factível. Continuaremos amargando por muito tempo estatísticas, como a recentemente divulgada pela Unesco que aponta que 38% dos analfabetos da América Latina são brasileiros.
A taxa de analfabetismo fica ainda maior quando calculada para o universo dos brasileiros com mais de 60 anos. Nesse sentido, nota triste foi deixada escapar por especialista do próprio IBGE, ao observar que uma possível e gradual redução do percentual de analfabetos não se daria por introduzir a educação para o grupo de 60 anos ou mais, mas por “questão demográfica”. Deixando de lado o eufemismo, é que a parcela dos que tem mais idade vai diminuindo por morte e, melhorando, por mórbida consequência, a estatística, que não se penaliza de ninguém.
Nesta semana, jornais de grande circulação reportaram a grande dificuldade de as empresas preencherem vagas existentes por falta de qualificações mínimas dos candidatos que a elas se inscrevem. Alfabetização deficiente ou inexistente leva a um ensino básico de péssima qualidade, o que se reflete diretamente na taxa de desemprego.
Decorre também daí a baixa produtividade do trabalhador brasileiro quando comparado com os dos nossos concorrentes em diversos nichos de disputa por mercados.
Para sairmos da longa série de “pibinhos”, de modo consistente, que nos leve ao desenvolvimento almejado, teremos que enfrentar o problema da educação e ele começa mesmo é no bê-a-bá. Construir universidades é sem dúvida necessário, mas está longe de ser suficiente.
Crônicas da Madrugada. Brasília – Dez.2022
DANILO SILI BORGES
Membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
Diretor de Ciências do Clube de Engenharia de Brasília
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