Passados os primeiros 10 meses deste ano, marcado pelo maior controle da pandemia de Covid-19 e aumento da vacinação, o número de óbitos na Bahia ainda não retornou ao patamar anterior à crise sanitária no estado. Levantamento inédito junto aos Cartórios de Registro Civil do Bahia aponta que o número de mortes em 2022 é 5% maior que o computado em 2019, e duas vezes maior que o crescimento anual médio de óbitos registrado no país antes da doença causada pelo novo coronavírus.
Os dados constam no Portal de Transparência do Registro Civil, administrado pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), abastecida em tempo real pelos atos de nascimentos, casamentos e óbitos praticados pelos 7.658 Cartórios de Registro Civil — presentes em todos os 5.570 municípios brasileiros —, e cruzados com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que utilizam como base os dados dos próprios cartórios brasileiros.
Em números absolutos foram registrados entre janeiro e outubro de 2022, 79.797 óbitos, número 9,5% maior que os 75.614 ocorridos nos 10 primeiros meses de 2019, antes da chegada da Covid-19. Na comparação com os números dos anos onde a pandemia esteve no auge no país, verifica-se uma redução de 9,9% em relação ao ano passado, que totalizou 88.632 mortes, e queda de 0,08% em 2020, que computou um total de 79.737 óbitos.
O ainda alto número de óbitos em 2022 chama mais atenção quando comparado em relação à média da evolução de mortes ano a ano no país, que variou, em média, 2,2% entre 2010 e 2019. Durante este período, a maior variação no número de óbitos na Bahia tinha ocorrido em 2019, quando registrou crescimento de 4,8%. Com exceção aos anos de 2020 e 2021, auge da pandemia no Brasil, quando os óbitos cresceram 5,4% e 11,1% de um ano para o outro, o ainda alto número de mortes em toda Bahia sugere que ainda podem haver fatores impactantes relacionados à doença.
Sequelas da Covid
Com o aumento da vacinação e o maior controle da pandemia, a Covid-19 deixou de liderar o ranking de mortes por doenças no estado, apresentando queda de 83,2% entre janeiro e outubro de 2022 em relação ao ano passado. Em 2021, no período analisado, foram registradas 14.966 mortes causadas pelo novo coronavírus frente a 2.513 neste ano. No entanto, outras doenças, algumas delas relacionadas a sequelas da doença passaram a registrar crescimento diferenciado no estado.
“Por meio dos dados levantados, percebemos que mesmo com a queda de mortes causadas pelo coronavírus, ainda persiste o aumento das demais doenças, como septicemia, pneumonia e as doenças do coração, que podem estar relacionadas com as sequelas causadas pelo Covid-19”, ressalta Daniel Sampaio, presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais da Bahia (Arpen/BA). “Temos assim o retrato de como anda o estado da Bahia e quais medidas de prevenção devem ser tomadas”, completa.
Um exemplo é o aumento no número de óbitos por pneumonia, que passaram de 4.523 entre janeiro e outubro de 2021 para 6.352 no mesmo período deste ano, um crescimento de 40,4%. Em 2020, foram 4.942 mortes pela doença nos 10 primeiros meses do ano, enquanto 2019 registrou 5.575 óbitos causados por pneumonia. O número de mortes pela doença apresentou aumento de 13,9% entre janeiro e outubro deste ano em comparação ao mesmo período de 2019, quando ainda não havia pandemia.
Outra doença que apresentou crescimento em 2022 foram as mortes por septicemia, que registraram aumento de 7,3% de janeiro a outubro de 2022 em relação ao mesmo período de 2019. Neste ano foram computadas 7.743 mortes causadas pela infecção generalizada grave do organismo, enquanto em 2019 foram 7.217 óbitos no mesmo período. Já nos anos auge da pandemia, 2020 e 2021, foram catalogados 7.021 e 6.789 óbitos por este tipo de doença, o que representa um aumento em 2022 de 14% em relação a 2021 e de 10% em relação a 2020.
Outro número que chama atenção no levantamento diz respeito ao número de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Entre 2019 e 2022, houve um salto de 338% nos registros de óbitos por esta doença respiratória. Em números absolutos, foram contabilizadas 390 mortes por SRAG nos 10 primeiros meses deste ano frente a 89 registros para o mesmo período de 2019. No entanto, em relação ao ano passado, houve diminuição de 3% no número de óbitos, quando houveram 403 registros de mortes por esta doença.
Outro dado observado pelos números de óbitos registrados pelos cartórios baianos está relacionado ao crescimento de mortes por doenças do coração entre janeiro e outubro deste ano na comparação com o mesmo período de 2019. São os casos das mortes por Causas Cardiovasculares Inespecíficas (44,4%), AVC (10,7%) e Infarto (3,8%).
Fonte: Da Redação / ARPENBA | Foto: Divulgação