A arma de fogo utilizada pelo adolescente de 14 anos, que matou a estudante Geane da Silva de Brito, de 19, na Escola Municipal Eurides Sant’anna, em Barreiras, falhou durante o ataque. Segundo a Polícia Civil, em coletiva realizada na terça-feira (27), a jovem foi morta com golpes de facão. O rapaz chegou fazer disparos dentro da escola, mas ao abordar Geane não conseguiu atirar.
“Tentou atirar, mas a arma picotou. Ela não teve condições de reagir. Então ele conseguiu esfaqueá-la. Cortou bastante, quase que degolou ela. Uma cena horrível. Ele tentou acertar outras vítimas, atirou na direção do porteiro, mas também falhou”, disse o delegado Rivaldo Luz, coordenador da 11ª Coorpin, em Barreiras em entrevista à TV Bahia.
Além do revólver e duas armas brancas, o atirador também estava com um explosivo caseiro que não foi usado. Equipes do COE e do Exército desmontaram o explosivo no mesmo dia do atentado. “Foram apreendidas as armas utilizadas como o revólver calibre 38, um facão e canivetes. Foi encontrado próximo à escola uma mochila que possivelmente carregou os objetos e tinha uma artefato explosivo”, disse o delegado de Homicídios de Barreiras, Thiago Aguiar Machado, durante a coletiva. “Ele tinha mais munições, mais instrumentos cortantes, poderia fazer um estrago bem maior”, completou.
A polícia ainda não conseguiu esclarecer de onde partiram os tiros que atingiram o adolescente durante o ataque. Ele foi atingido por quatro disparos e segue internado em estado grave. “Recolhemos algumas cápsulas diferentes da arma que ele estava usando para que possamos fazer novas comparações. Vamos tomar novos depoimentos dos policiais militares. A gente sabe também que tinha pais entrando e entregando os filhos. Alguns pais eram policiais, então pode ter sido qualquer um deles”, disse o coordenador da 11ª Coorpin.
Arma no colchão
A arma de fogo utilizada pelo adolescente pertence ao seu pai, que é subtenente da reserva do Distrito Federal. Na delegacia da cidade, o militar disse que ainda não sabe como o filho teve acesso ao revólver, que ficava escondido dentro de um colchão em sua casa. O atirador chegou a postar em seu perfil nas redes sociais que estava em busca por munições para realizar o ataque.
Um levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz, em 2019, mostra que em metade dos ataques dentro escolas, os atiradores usaram armas que estavam guardadas em suas casas. “Em quase metade dos casos o estudante não precisou ir no mercado ilegal para comprar uma arma porque ela estava dentro de sua própria casa”, disse à época Bruno Langeani, gerente do Sou da Paz.
Em 2002, um adolescente de 17 anos matou duas colegas com um revólver .38 dentro da sala de aula, no colégio Sigma, em Salvador. Segundo testemunhas, o ato foi uma vingança porque as duas vítimas teriam dado uma nota baixa para o agressor em uma gincana escolar. O revólver usado pelo adolescente era do pai dele, um agente de segurança pública.
Ainda de acordo com o instituto, o decreto presidencial 9.685, que permite a posse de armas para a população civil pode ter gerado um efeito facilitador. “A flexibilização na compra de armamentos, proposta pelo decreto, tende aumentar a presença de armas nas residências do país, o que pode vir também a aumentar a incidência desses atentados”, completou Langeani
A quantidade de armas novas registradas na Bahia deu um salto nos últimos quatro anos. Nos três primeiros meses de 2019, foram 400 registros novos de armas de fogo no estado. Neste ano, o número cresceu para 1.363, o que representa um aumento de 240%, segundo dados da Polícia Federal. A escalada se dá em um momento em que o governo federal se mostra favorável ao armamento da população.
Em fevereiro do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro assinou quatro decretos que flexibilizaram o uso e a compra de armas de fogo no Brasil. Uma das medidas foi justamente o aumento do número de armas que o cidadão comum pode adquirir, que subiu de quatro para seis. O governo também passou a permitir o porte simultâneo de duas armas.
Fonte: Correio24hrs | Foto: Reprodução